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17 de jun. de 2009

SITUAÇÃO ATUAL SOBRE OS DIREITOS QUILOMBOLAS

Na história do Brasil, as Comunidades Quilombolas são, e sempre foram, exemplo de organização social, assim como as comunidades negras em todadiáspora africana. Como evidência dessa importante forma de organização,estimamos existir atualmente cerca de 5.000 comunidades quilombolas em todoterritório nacional, com histórias que vão desde pouco menos de 100 anos deformação a séculos de existência.

Hoje, essas milhares de comunidades vêm formando grande rede dearticulação em vários níveis: organizações locais, municipais, regionais,estaduais e nacional, essa última representada pela CONAQ (CoordenaçãoNacional de Articulação das Comunidades Negras Rurais Quilombolas), hoje compresença em quase todas as Unidades da Federação. Essa crescente mobilização das Comunidades Quilombolas tem trazidoimportantes resultados na construção de uma política de Estado que reconheçaos direitos desse grupo, que vai desde a criação do Artigo 68 do ADCT (Atosdas Disposições Constitucionais Transitórias) e outras citações contidas naConstituição Federal de 1988, passando por decretos, portarias, instruçõesnormativas, tratados internacionais e legislações editadas pelos governosestaduais.

Dessas conquistas, vale destacar o decreto 4.887, assinado peloPresidente da República, Luís Inácio Lula da Silva, em 20 de novembro de2003, regulamentando os procedimentos técnicos e administrativos para oreconhecimento, demarcação, delimitação e titulação dos territóriosquilombolas, que traz o critério de auto-reconhecimento, como elementobásico para o início do processo de regularização. Ele traz outros avanços no que diz respeito à regularização fundiária e ainda cria o Programa Brasil Quilombola, que destina recurso de vários órgãos do Governo Federal para odesenvolvimento social e econômico das comunidades. A partir da criação do decreto, o número oficial de comunidades identificadas no país passou de 743 para mais de 3.000, o que gerou grande preocupação no setor fundiário, seguida de forte estratégia na tentativa deanulação dos direitos quilombolas, puxada pela bancada ruralista, empresasdo agronegócio e grupos de comunicação.

Além da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI 3239/04), de autoriados Democratas, ex-PFL (Partido da Frente Liberal), em tramitação no STF(Supremo Tribunal Federal), que contesta a constitucionalidade do decreto4887/03, existem atualmente os seguintes projetos no Congresso Nacional: - PDC 44/07 de autoria do Deputado Federal Valdir Colatto (PMDB-SC) que pede a anulação do decreto 4887; - PL 3654/08 de autoria do mesmo deputado, que 'regulamenta' o artigo 68 do ADCT, segundo os interesses da bancada ruralista; - PEC 190/00 de autoria do Senador Lúcio Alcântara (PSDB/CE), que exclui o Artigo 68 e insere novo item (no Capítulo VIII, Título VIII, seria o artigo 232-A), que apresenta outra redação para o texto do Artigo 68, com o problema de sugerir tratar-se de indivíduos e não coletividades e de indicar que a titulação deverá ser feita "na forma da lei", sem dizer qual seria essa lei. - PL 6264/05, aprova o Estatuto da Igualdade Racial, havendo uma forte pressão para a retirada do texto que trata dos territórios quilombolas de dentro do Estatuto.

A situação acima apresentada demonstra o quanto as comunidadesquilombolas têm incomodado os grileiros e latifundiários em todo país. Parapiorar, além desses procedimentos jurídicos e legislativos, aconteceatualmente, em todo país, uma série de ações de violência contra famíliasquilombolas, negação da identidade étnica do grupo, pedido de reintegraçãode posse por parte de fazendeiros e criminalização do movimento socialquilombola. Importantes grupos de comunicação fazem uso da concessão pública parase colocarem a serviço dos ruralistas. Órgãos do Estado Brasileiro tambémtem atuado em favor desses grupos (Polícias Militar, Civil e Federal, órgãosambientais, etc) e o próprio judiciário, em alguns casos.


ESTRATÉGIA DE DEFESA DOS DIREITOS QUILOMBOLAS


  • Do ponto de vista político, jurídico e administrativo

A CONAQ tem atuado em várias frentes a fim de reverter esse quadrocrítico de direitos ameaçados. Um grupo de organizações sociais de defesados direitos humanos tem dialogado diariamente entre si e com o movimentoquilombola. Das ações já desenvolvidas, destacam-se: - Diálogo com a 6ª Câmara do Ministério Público Federal (Índios e Minorias), para tratar das estratégias de defesa dos direitos quilombolas; - Diálogo com a assessoria da Senadora Marina Silva para a articulação de um grupo de parlamentares que apóiem a causa quilombola; - Diálogo com o Ministro Edson Santos da SEPPIR, Deputado Federal Carlos Santana - PT/RJ (Presidente da Comissão Especial para análise do Estatuto da Igualdade Racial) e Deputado Federal Antônio Roberto - PV/MG (Relator do Estatuto da Igualdade Racial), para tratar do Estatuto da Igualdade Racial; - Diálogo com Dr. Pedro Abramovay, secretário de assuntos legislativos do Ministério da Justiça, Ministro da Justiça Tarso Genro e Advogado Geral da União Ministro Toffoli, todos para tratar da ADI 3239; - Em curso, elaboração de memorial, com informações para subsidiar o STF na votação da ADI 3239; - Pedido de Audiência Pública ao STF; - Pedido de Audiência com os Ministros do STF para tratar da ADI, sendo que até agora fomos recebidos por Menezes Direito, Carlos Ayres Brito, Ricardo Lewandowsky e Carmem Lúcia Antunes Rocha; - Pressão sob o INCRA, para consolidação de alguns processos de regularização que estejam em estágios mais avançados, como forma de fortalecimento do decreto.

  • Do ponto de vista da sensibilização da opinião pública

Escrevemos o Manifesto pela Defesa dos Direitos Quilombolas, petição colocada na internet, para colher assinaturas das pessoas sensibilizadas coma questão. Já passamos de 2000 assinaturas. Está sendo utilizada o sitio *www.conaq.org.br* <http://www.conaq.org.br/>, página da CONAQ na Internet, pra dar visibilidade às ações que acontecem. Foi aberto diálogo com um grupo de artistas negros para o desenvolvimento de uma campanha, envolvendo também artistas não negros sensíveis à causa quilombola. Essa campanha incluirá falas públicas dos artistas dizendo que apóiam a causa quilombola; ida dos artistas ao STF, Congresso Nacional e outros espaços estratégicos; e realização de showsdesses artistas em apoio aos direitos quilombolas, em Brasília, no Rio deJaneiro e em São Paulo.

A CONAQ tem feito diálogo também com movimentos do campo e movimentosambientalistas. Assim, participou do lançamento da Aliança Camponesa eAmbientalista em Defesa da Reforma Agrária e do Meio Ambiente, no SenadoFederal, em 10 de março de 2009. Participou da I Semana pela Reforma Agráriae Justiça no Campo, em debate sobre a Criminalização das Lutas Populares dosPovos do Campo. E participou da Vigília em Defesa da Amazônia, no SenadoFederal, dia 13 de maio de 2009.

A participação da CONAQ na Conferência de Revisão de Durban, realizadoem Genebra – Suiça, entre os dias 20 e 24 de abril do corrente, foi fruto de muita disputa entre atores interessados em compor a delegação brasileira. Ela foi importantíssima para a divulgação da questão quilombola em âmbito internacional, resultando na Carta de Genebra em Defesa dos Direitos Quilombolas (disponível no site da CONAQ). Também valeu para se abrir um diálogo na França, com vistas à construção de campanha internacional em defesa dos direitos quilombolas. Em diálogo com a AMAR, organização não-governamental francesa, ficou estabelecido que: serão recolhidas assinaturas na França para apresentar aoEstado brasileiro; a CONAQ fica convidada à participar da Semana daSolidariedade no mês de novembro na França; e a Organização Povos Solidários promoverá uma Campanha na Europa em defesa dos direitos quilombolas noBrasil. Estamos propondo às organizações representativas do movimentoquilombola nas esferas estaduais e locais, que sejam realizados manifestos,audiências públicas nas Assembléias Legislativas, mobilização de atorespolíticos nos estados, etc, para que o movimento em defesa dos direitosquilombolas ganhe força nas também nas bases, não ficando restrito ao espaçode Brasília. Estamos propondo a realização da Mobilização Nacional pela Defesa dosDireitos Quilombolas, em Brasília, durante a II Conferência Nacional dePromoção da Igualdade Racial – II CONAPIR, entre os dias 25 e 28 de junho,com os quilombolas delegados da CONAPIR mais outros que conseguiremmobilizar ônibus dos estados para o ato, além dos movimentos parceiros.

Foi aberto diálogo com a direção nacional do Movimento Sem-Terra – MST, no sentido de tentar aproximar as lutas quilombola e da reforma agrária. Sugestão de acompanhamento, pelas entidades quilombolas estaduais, da açãopolítica que o MST está organizando, dias 08 e 09 de junho, pela defesa doPRONERA (Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária), com ocupação nosINCRAS dos Estados. Em negociação, apoio dos assentamentos do DF e entornona mobilização nacional pela defesa dos direitos quilombolas.

Fonte: Damião Braga Soares dos Santos - Presidente da Associação da Comunidade Remanescente do Quilombo Pedra do Sal- ARQPEDRA / RJ

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