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12 de jun. de 2009

Comissão dos Direitos Humanos de Passo Fundo: 25 anos em defesa

25 anos em defesa dos direitos humanos
Entidade comemora 25 anos de trabalho no município e reitera a disposição de continuar lutando para construir uma cultura que priorize esses direitos.


O ano era 1983, uma época de turbulência política, o Brasil ainda estava sob o regime militar. Mas isso não inibiu o desejo de um certo grupo que queria lutar pela igualdade. Pelo contrário, as adversidades fora m motivadoras. Foi assim que surgiu a idéia de criar em Passo Fundo uma entidade com esse propósito. O grupo, no início formado por pessoas ligadas à igreja católica e aos movimentos sociais da juventude e pastoral da terra e educação (CPERS), foi ganhando mais membros, pessoas e entidades que partilhavam o mesmo objetivo. Em 1984 eles saíram em busca de outras entidades que defendiam os direitos humanos em vários lugares do Brasil em busca de experiência. Foi nesse mesmo ano que o sonho se concretizou. No dia 5 de junho de 1984, um grupo de 20 pessoas fundava a Comissão dos Direitos Humanos de Passo Fundo (CDHPF), que teve como primeira presidente Maria Sirlei Vieira. Vinte e cinco anos depois, o coordenador geral da comissão, Nei Alberto Pies, destaca a importância dessa trajetória e reitera a disposição dos membros da entidade para continuar lutando pela dignidade humana, a partir da construção de uma cultura de direitos humanos. A seguir, em entrevista à reportagem do Jornal Diário da Manhã, Nei Alberto Pies, fala desses 25 anos de história da entidade.

DIÁRIO DA MANHÃ: Qual é a concepção de luta em direitos humanos para vocês, militantes desta causa?NEI ALBERTO PIES: Nossa entidade sempre atuou na perspectiva de apoiar as pessoas que, de forma individual ou coletiva, organizam-se para a promoção, defesa e realização de seus direitos. Sempre tivemos o entendimento que deveríamos ser a mediação e o apoio para as lutas, porque acreditamos que todo ser humano deve emancipar-se, exercendo sua condição de cidadania e de sujeito de direitos. Consideramos ainda que as políticas públicas é que devem traduzir para a realidade cotidiana os direitos e garantias previstas em nossa legislação.

DM: A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi promulgada pela Nações Unidas em 10 de dezembro de 1948. Foi um avanço. O que trouxe de benefícios?
PIES: Tanto a Declaração Universal dos Direitos Humanos, como a Constituição Brasileira de 1988 e os Pactos Internacionais trouxeram avanços para os direitos humanos porque são instrumentos que possibilitam que a sociedade e os sujeitos cobrem dos governos a execução de políticas que dignificam a pessoa humana. A realização dos direitos humanos fundamentais precisa ser garantida pelo Estado. Além do mais, estes instrumentos são compromissos que governos e sociedade assumem como seus ideais de mundo e humanidade. No entanto, vivemos ainda, no Brasil e no mundo, uma “cidadania de papel”. Neste sentido, precisamos lutar para que as garantias já previstas nas legislações tornem-se realidade na vida cotidiana de todos os seres humanos.

DM: Quais são os maiores desafios para quem trabalha com o tema direitos humanos?
PIES: Nosso trabalho é voluntário. Por isso exige doação e compromisso e isto tem um preço que cada um decide pagar. Mas quem luta pelos direitos humanos, seus e dos outros, acredita imensamente em todas as possibilidades e potencialidades humanas, porém nem sempre é bem compreendido/a. Direitos humanos exigem mudanças de estrutura de sociedade. Dignidade não pode ser para alguns, deve ser para todos e todas. Não podemos aceitar também que, em plena democracia, pessoas e grupos sejam criminalizados quando lutam por seus direitos, seja na luta pela terra, moradia, educação....e nem que o Estado, que deve ser o garantidor de direitos, seja, por vezes, o grande violador.

DM: Apesar de ser uma entidade de poucos militantes, o que torna a CDHPF uma referência?
PIES: Desde nossa fundação, trabalhamos a idéia de parcerias protagonistas. Contamos também com o apoio de colaboradores (pessoas e entidades). Somos, com certeza, uma referência da luta pelos direitos humanos em Passo Fundo e região, mas não nos sentimos donos da temática. Construímos ações como o Colóquio Nacional de Direitos Humanos, as campanhas de afirmação dos Direitos Humanos, o Diagnóstico da Beira Trilho, o Fórum Municipal de Educação em Direitos Humanos, Formação de Agentes Multiplicadores, a participação nos Conselhos Municipais numa lógica de construção coletiva com muitas outras entidades e pessoas. Somos também filiados, desde a nossa fundação, ao Movimento Nacional de Direitos Humanos, participando ativamente das lutas nacionais. Desta forma, exercemos uma vigilância em relação a garantia e reparação dos direitos violados.

DM: Quais são os desafios da atuação em direitos humanos em nosso município, Passo Fundo?
PIES: Em Passo Fundo ainda temos muito a avançar. As políticas públicas de nossa cidade ainda precisam estar melhor articuladas para a garantia de condições de moradia, de acesso ao trabalho, de educação, saúde, segurança....Precisamos ainda enfrentar a questão da criminalidade, assustadora pelos altos índices de homicídio, por exemplo. Há muitos anos, lutamos junto com a comunidade passo-fundense pela melhoria nas condições de nosso Presídio Regional. Acreditamos, sobretudo, que nossa cidade deve buscar, incansavelmente, através de todos os atores sociais e setores, ampliar as condições de oportunidade (de vida, trabalho, cultura e lazer) a todos aqueles e aquelas que decidiram morar aqui.

DM: Que ações serão desenvolvidas para comemorar 25 anos?
PIES: Com o intuito de resgatar nossa história ao longo destes 25 anos, organizamos algumas atividades: Sessão Solene na Câmara de Vereadores (dia 17 de junho), produção de Campanha 25 anos (vídeo institucional, VT e spot), Resgate da Memória de Luta, Caravana dos Direitos Humanos nos bairros, Seminários e Festa. O mote principal de nossa comemoração é inspirado em Poema de Eduardo Galeano, o Mundo. A Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo acredita que cada pessoa é uma fogueira... umas grandes... outras pequenas... todas humanas. Atua cotidianamente para que nenhuma delas seja apagada. Faz isso porque acredita que a dignidade humana é uma construção que se realiza junto com a efetivação dos direitos humanos de cada pessoa e de todas as pessoas. Por isso insiste em lançar luzes para afastar a desigualdade, a dominação, a injustiça, a violência. Quer uma sociedade na qual todas e cada pessoa tenham lugar e possam brilhar. Ao completar 25 anos de lutas e conquistas, registra a memória das muitas pessoas que puseram sua luz a serviço da realização dos direitos humanos em Passo Fundo.
“A Comissão de Direitos Humanos de Passo Fundo acredita que cada pessoa é uma fogueira... umas grandes... outras pequenas... todas humanas. Atua cotidianamente para que nenhuma delas seja apagada. Faz isso porque acredita que a dignidade humana é uma construção que se realiza junto com a efetivação dos direitos humanos de cada pessoa e de todas as pessoas” Nei Alberto Pies

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