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2 de mai. de 2011

Morre escritor argentino...

ERNESTO SÁBATO, escritor argentino, morreu neste sábado, 30 de abril de 2011, aos 99 anos. Foi presidente da Comissão Nacional sobre Desaparecimento de Pessoas (Conadep), em 1984, que investigou os crimes da ditadura argentina (1976-1983), e da qual resultou o Relatório “Nunca mais”.
No Epílogo de seu livro “Antes del fin” (Ed. Espasa Calpe/Seix Barra L, 1998) intitulado “Pacto entre derrotados”. Dirige mensagem quase testamentária particularmente ao jovens. Entre várias pérolas, diz: “Vivemos um tempo no qual o porvir parece dilapidado. Porém, se o perigo tornou-se nosso destino comum, devemos responder aos que reclamam nosso cuidado” (1998, p. 114, tradução nossa). Encerra o texto da seguinte maneira: “Também eu quis fugir do mundo. Vocês [referindo-se aos jovens] me impediram com suas cartas, com suas palavras pelas ruas, com seu desamparo. Proponho-lhes, então, com a gravidade das palavras finais da vida, que nos abracemos num compromisso: saiamos aos espaços abertos, arrisquemo-nos pelo outro, esperemos, com quem estende seus braços, que uma nova onda da história nos levante. Quiçá já o esteja fazendo de um modo silencioso e subterrâneo, como os brotos latentes sob as terras de inverno. Algo pelo que vale a pena sofrer e morrer, uma comunhão entre homens, aquele pacto entre derrotados. Somente uma torre, sim, porém fulgurante e indestrutível.
Em tempos obscuros nos ajuda quem soube andar na noite. Leiam as cartas que Miguel Hernández enviou do cárcere, onde finalmente encontrou a morte: ‘Voltaremos a brindar por tudo o que se perde e se encontra: a liberdade, as cadeias, a alegria e esse carinho oculto que nos arrasta a buscar-nos por toda a terra’. Pensem sempre na nobreza destes homens que redimem a humanidade. Através de sua morte nos entregam o valor supremo da vida mostrando-nos que o obstáculo não impede a história, nos recordam que o homem somente cabe na utopia.
Somente os que forem capazes de encarnar a utopia serão aptos para o combate decisivo, o que pretende recuperar o quanto de humanidade já tivermos perdido” (1998, p. 115-116, tradução nossa). Com isso, rendemos nossa homenagem a este grande homem, certamente um “destes homens que redimem a humanidade” por ocasião de sua morte.

Por Paulo Carbonari.

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