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9 de dez. de 2009

DESIGUALDADE DE GÊNERO E FEMINIZAÇÃO DA AIDS

Maria das Graças Sousa*

Dia 1º de dezembro é o DIA MUNDIAL DE LUTA CONTRA A AIDS. Por isso, a Secretaria de Mulheres da CUT/DF ocupa esse espaço para dialogar com você sobre um fenômeno muito importante relacionado a esse tema: a feminização da aids.
Desde 1992, o número de mulheres infectadas pelo vírus HIV é crescente, o que indica que as ações preventivas não estão sendo suficientes para frear o avanço da aids dentre a população feminina.
No mundo todo, as mulheres já representam 50% da população infectada e no continente africano, já são maioria, com 60%. A ONU aponta a desigualdade de gênero e todas as formas de violência contra as mulheres como fatores determinantes para o aumento da vulnerabilidade feminina à doença. Ou seja, as mulheres muitas vezes são forçadas a ter relações sexuais não desejadas e desprotegidas com seus parceiros. Além da violência física, outras formas sutis de opressão, como o preceito da fidelidade matrimonial, concorrem para a proliferação do vírus.
Uma pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde sobre o uso de preservativos apontou que apenas 19,4% das mulheres que tiveram relações sexuais com parceiro fixo usaram preservativo, contra 45,7% das mulheres que tiveram relações com parceiros eventuais. Isso indica que as mulheres em relações conjugais ou permanentes dão menos atenção à prevenção, aumentando os riscos de contaminação.
Além da vulnerabilidade gerada pela cultura machista, que oprime a livre expressão da sexualidade feminina, essa realidade também é resultado de um conceito equivocadamente utilizado pelas primeiras campanhas de prevenção que foram direcionadas aos “grupos de risco”: homossexuais, prostitutas e usuários de drogas injetáveis. Hoje os programas de prevenção já procuram adotar o conceito de “práticas de risco”, admitindo assim que todas as pessoas que mantém relações sexuais, permanentes ou eventuais, com parceiros do mesmo sexo ou não, estão sujeitas à infecção.
No Brasil, quando a aids surgiu na década de 80, havia em média um caso em mulheres para cada 26,5 em homens. Com o passar dos anos, a proporção foi caindo e em 2007 chegou a 1 caso de infecção em mulheres, para cada 1,5 caso em homens, segundo dados do Programa Nacional de DST/Aids do Governo Federal.
Extrapolando as conseqüências diretas à qualidade e expectativa de vida das mulheres, a feminização da aids também gera risco de infecção para os bebês, que podem ser contaminados pela mãe durante a gestação, o parto ou a amamentação.
De 1980 a junho de 2007, foram notificados 474.273 casos de aids no país. Além dos casos notificados, o Ministério da Saúde estima que existam mais 250.000 pessoas infectadas pelo vírus HIV, que não sabem que são portadoras pois ainda não realizaram o teste. Além da dificuldade de acesso aos serviços públicos de saúde, o medo do diagnóstico e da discriminação social são fatores que dificultam a realização do exame. No entanto, a testagem continua sendo o método mais eficaz de se descobrir o vírus, e quanto antes a(o) paciente soropositiva(o) começar a ser tratada (o), maior será eficácia do tratamento.
Romper com o medo, denunciar a violência e enfrentar o preconceito que nos oprime é o primeiro passo para frearmos o avanço do aids entre as mulheres e, consequentemente, entre toda a população. Contamos com você nessa luta!

*Maria das Graças Sousa é analista judiciária e secretária de mulheres da CUT/DF

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